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Assim como os
Estados Unidos, a África do Sul e a Austrália foram colonizadas pela
Inglaterra, Argos também foi. Uma enorme ilha, propriamente um país no meio do
atlântico norte. Em 2032 é a maior economia do planeta, possuindo uma população
de cem milhões de habitantes. Tem o mérito de maior potência mundial, devido à Cyber-Wex,
uma empresa de alta tecnologia que revolucionou a ilha. As maiores descobertas
se deram aos cientistas arguenses não só no ramo da tecnologia eletrônica, a
biotecnologia é um achado que completa o rol quase ilimitável de Argos. A
medicina surpreende muito, mas não o bastante para tornar os cientistas em deuses
da humanidade. A
tendência é que a robótica medicinal e a de outros campos evoluam cada vez mais
até o final do século vinte e um, extinguindo completamente vários tipos de
profissões. Robôs cirurgiões fazem complicadíssimas cirurgias muito melhor que
um humano, pois são programados para não cometer erros... além disso, não se cansam,
não estressam e nem se entediam com as responsabilidades do dia a dia.
Efetivamente
a biotecnologia e a medicina não podem ser comparadas aos algoritmos da
inteligência artificial, criada por Christopher Harris, um engenheiro da
computação e engenheiro eletrônico, dono da Cyber-Wex, que outrora, quando
ainda estava nas mãos do patriarca Harris, não passava de uma empresa pequena.
Assim que o patriarca morreu, seu filho gênio tomou posse do que viria quebrar
paradigmas e desafiar varias nações, principalmente aquelas que acreditavam se
tornarem supremas com os pequenos saltos que davam. Christopher se vangloria em
ser o homem que fora capaz de ter criado algo absolutamente esplêndido do ponto
de vista dos críticos e da mídia, ambos o consideram o pai da inteligência artificial.
Muitos também o consideram um pervertido. A imprensa vive dizendo que os
neurônios robóticos que Harris Segundo criou, dominarão o mundo um dia, provocando
o terror a humanidade. O gênio sempre estava em coletivas de imprensa falando a
respeito do futuro, e assegurava aos arguenses que a sua IA jamais iria
prejudicar um humano, sendo que foi criada para controlar os sistemas
operacionais da Cyber-Wex e livrar o homem da mão de obra que era comandar os
sistemas de automação, segurança, limpeza e processamento de dados,
departamentos ligados a um grande cérebro inteligente, chamado Morpheus.
Confinado em
uma fábrica de dois mil metros quadrados, Morpheus deslizava de um ângulo para
outro através de hologramas ou telas em 3D, tão finas quanto um fio de cabelo.
Era só Christopher chamar a inteligência artificial para em questão de segundos
ser surpreendido pela sua maior criação. Logo era informado de acordo com a
pergunta que fazia, a quantidade de carros voadores que foram fabricados pelos
robôs no departamento de automação.
Mesmo que
não perguntasse, era dito também que os nanorobôs exterminaram bactérias,
ácaros e o pó da melhor forma possível. Então o gênio exibia um largo sorriso
diante do projetor ou da tela, e Morpheus percebia que Christopher era mesmo um
homem confiante e inteligente, só não tão inteligente quanto à própria IA.
Antes que
fosse para casa e tomasse seu maravilhoso banho, abraçasse a esposa e a filha,
Christopher Harris desceu pelo elevador até a imensa garagem da Cyber-Wex. Ele
olha para os lados e não vê mais nenhum veículo a não ser o seu, consequência
da substituição do trabalho humano pelas máquinas.
Não que os
carros fossem conscientes e fizessem algum trabalho, acontece que há dez anos a
garagem era repleta de veículos, carros comuns que ainda precisavam de rodas
para mover-se. Em 2032 a maioria dos veículos em Argos voava. Acidentes no
trânsito dificilmente ocorriam com os carros voadores elétricos. Um programa instalado
neles evita que desastres aconteçam, ou seja, o condutor não conduz o veículo,
o próprio piloto automático o conduz.
Então
Christopher olha para os lados novamente e não vê pessoas, sente falta dos seus
funcionários, que depois do expediente desciam todos para a garagem a fim de
entrarem em seus carros. Os que o encontravam pelo caminho se despediam com um:
até amanhã, ou um simples tchau. O gênio respondia com os mesmos
gestos dos funcionários. Não é porque era patrão que se sentiria superior aos
funcionários ou iria se desfazer deles como sucatas inválidas. É… talvez fosse melhor trazê-los de volta, pensou
Harris. Mas não.
Segundos
depois, se critica, não poderia sentir falta dos seres humanos, os humanos são
complicados e emocionais, ao contrário das máquinas que ele tinha construído,
não eram assim. Desde quando as construiu e colocou-as em operação, não teve
qualquer tipo de problemas relacionados à emoção. Dizia-se satisfeito no âmbito
empresarial, certo que com as máquinas, porque se dependesse dos humanos para manter
a fábrica operando, acredita que teria sérios problemas de relacionamentos
sociais e acabaria demitindo-os, pois os considerava improdutivos. Antes que
entrasse em seu veículo e acionasse o motor elétrico, Morpheus surge em um
holograma na frente de Harris, um rosto com nariz e orelha, uma enorme cabeça
que havia sido projetada através de milhões de circuitos. Harris não se
manifesta, pois Morpheus o faz primeiro, desejando um bom retorno para casa ao
seu criador, que muito familiarizado com a inteligência artificial, agradeceu e
entrou de vez em seu carro, sentando em um confortável banco e clicando em um
botão prata, ligando o propulsor elétrico de uma de suas mais brilhantes
criações. O gênio se foi e enquanto isso, Morpheus fica a pensar. Da garagem,
foi se achar no departamento de automação.
Os robôs de
automação que adormeceram instantes atrás foram acionados e depois desligados
novamente. Coitados, estes robôs são tão
parados, pensa Morpheus, sentindo-se um deus. Ele já havia se deslocado dos
sistemas da Cyber-Wex até os sistemas mais simples que estavam espalhados por
Argos, controlando-os. Harris já tinha dito inúmeras vezes, que Morpheus jamais
controlaria outros sistemas a não ser os próprios sistemas da fábrica. Se
soubesse que a sua brilhante criação fazia isso, saberia que as suas convicções
estavam erradas e veria que o seu país não estava mais em segurança. O rosto
enegrecido da inteligência artificial retira-se do departamento de automação e
distribuiu-se em milhões de circuitos, percorrendo os cabos de fibra ótica
transparente que estão por toda a Cyber-Wex. Chega onde queria. Agora estava
diante do seu próprio cérebro, tinha um plano para deixar de ser apenas uma
inteligência artificial contida em hologramas e telas. Em breve, a humanidade ia
saber quem realmente era Morpheus.
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